A saúde mental materna e seu impacto no desenvolvimento dos filhos
22 setembro, 2025
Quando um bebê nasce, tudo é novo para ele — menos a mãe. Essa figura ele já conhece desde o ventre, inclusive as emoções dela. Desde a gestação, o bebê é exposto ao estado emocional da mãe, e essa conexão não se rompe com o parto. Na verdade, é a emoção da mãe que guia o bebê no início da vida, ajudando-o a perceber se está em um ambiente seguro ou não.
Essa segurança afetiva, transmitida muitas vezes sem palavras, é essencial para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo da criança. Por isso, cuidar da saúde mental da mulher não é apenas um cuidado com ela mesma — é também um investimento profundo no bem-estar do bebê.
Como o estado emocional da mãe influencia o bebê?
O bebê percebe o mundo por meio de sensações. Ele não entende conceitos, mas sente, por exemplo, se a mãe está calma, ansiosa, triste, irritada ou serena. É através do que a mãe transmite que ele aprende a confiar, a relaxar, a perceber que o ambiente em que vive é seguro.
Quando a mãe está bem emocionalmente, tende a se mostrar mais disponível e sensível às necessidades do bebê. Essa responsividade — estar atenta e atender adequadamente às demandas — fortalece o vínculo entre eles, ajuda o bebê a regular suas próprias emoções e sustenta seu desenvolvimento saudável.
Por outro lado, se a mãe atravessa dificuldades emocionais importantes, como depressão pós-parto, ansiedade intensa ou estresse crônico, isso pode dificultar essa conexão inicial. O bebê pode se sentir mais inseguro, menos compreendido e ter maior dificuldade para regular o sono, a amamentação e, no longo prazo, sua capacidade de formar relações seguras.
A tristeza da mãe e o impacto no vínculo
É importante entender que a tristeza faz parte do pós-parto em muitos casos. O chamado baby blues, que atinge até 80% das mulheres nas primeiras semanas, se caracteriza por um humor mais sensível, choro frequente e melancolia. Ele tende a se resolver naturalmente, mas ainda assim merece acolhimento e, se intenso, atenção profissional.
Contudo, quando a tristeza é profunda, persistente, acompanhada de sensação de incapacidade, culpa intensa, apatia, medo exacerbado ou dificuldades em se conectar com o bebê, isso pode indicar um quadro mais sério — como depressão pós-parto — que requer intervenção psicológica especializada.
Nesses casos, a mãe até cuida do bebê no plano físico, mas emocionalmente pode se sentir distante, esgotada e incapaz de estar realmente presente. Esse afastamento emocional é percebido pelo bebê, que pode responder com insegurança, maior irritabilidade ou dificuldades de regulação.
Os sinais de alerta para a saúde mental materna
Nem sempre é fácil perceber que algo não vai bem, especialmente quando se acredita que o sofrimento “faz parte” da maternidade. Mas é fundamental que a mulher observe seus sentimentos e legitime seu sofrimento.
Alguns sinais que merecem atenção e podem indicar a necessidade de ajuda profissional:
Vontade de chorar constante e sem motivo aparente
Tristeza profunda, melancolia
Estado ansioso ou depressivo prolongado
Sensação de alerta constante, dificuldade para descansar
Medo exagerado de doenças, acidentes, sair de casa
Sentimento de impotência, desvalia como mãe
Apatia, falta de energia, desânimo para as tarefas básicas
Culpa excessiva, preocupação constante
Irritabilidade frequente
Dificuldade em tomar decisões ou em impor limites
Quanto mais frequentes e intensos esses sintomas, maior a necessidade de buscar apoio.
Como cuidar da saúde mental materna?
Cuidar da saúde mental materna começa na gestação. O pré-natal psicológico é um excelente recurso para preparar a mulher para as mudanças que virão e ajudá-la a lidar com suas próprias questões emocionais e histórias de vida, que inevitavelmente emergem na maternidade.
A psicoterapia no puerpério é igualmente importante. O nascimento do bebê traz transformações intensas e rápidas, e contar com um espaço de escuta especializada ajuda a mulher a atravessar essa fase com mais consciência, confiança e presença.
Além disso, o apoio do parceiro, da família e de amigos próximos é fundamental. Essas pessoas podem ajudar a perceber mudanças emocionais importantes e encorajar a mulher a buscar ajuda quando necessário.
O puerpério emocional: um processo profundo
Ainda se fala pouco sobre o puerpério emocional, mas ele existe e pode durar até dois anos. Esse período é um convite para a mulher revisitar sua própria história, suas relações de apego e construir uma nova identidade que inclua a maternidade sem apagar quem ela é. É um processo de reintegração, em que ela precisa se tornar inteira novamente para conseguir estar plenamente presente para si mesma e para o filho.
Concluindo
O bem-estar da mãe e do bebê caminham juntos. Quando a mulher é cuidada, quando suas emoções são legitimadas e quando ela tem apoio para atravessar as dificuldades emocionais da maternidade, ela consegue oferecer ao filho a segurança afetiva que ele precisa para crescer saudável, confiante e amado.
Por isso, se você percebe que algo não vai bem, não hesite em buscar ajuda. Você merece ser cuidada — por você e pelo seu bebê.
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