A saúde mental materna e seu impacto no desenvolvimento dos filhos

22 setembro, 2025

Quando um bebê nasce, tudo é novo para ele — menos a mãe. Essa figura ele já conhece desde o ventre, inclusive as emoções dela. Desde a gestação, o bebê é exposto ao estado emocional da mãe, e essa conexão não se rompe com o parto. Na verdade, é a emoção da mãe que guia o bebê no início da vida, ajudando-o a perceber se está em um ambiente seguro ou não.

Essa segurança afetiva, transmitida muitas vezes sem palavras, é essencial para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo da criança. Por isso, cuidar da saúde mental da mulher não é apenas um cuidado com ela mesma — é também um investimento profundo no bem-estar do bebê.

Como o estado emocional da mãe influencia o bebê?

O bebê percebe o mundo por meio de sensações. Ele não entende conceitos, mas sente, por exemplo, se a mãe está calma, ansiosa, triste, irritada ou serena. É através do que a mãe transmite que ele aprende a confiar, a relaxar, a perceber que o ambiente em que vive é seguro.

Quando a mãe está bem emocionalmente, tende a se mostrar mais disponível e sensível às necessidades do bebê. Essa responsividade — estar atenta e atender adequadamente às demandas — fortalece o vínculo entre eles, ajuda o bebê a regular suas próprias emoções e sustenta seu desenvolvimento saudável.

Por outro lado, se a mãe atravessa dificuldades emocionais importantes, como depressão pós-parto, ansiedade intensa ou estresse crônico, isso pode dificultar essa conexão inicial. O bebê pode se sentir mais inseguro, menos compreendido e ter maior dificuldade para regular o sono, a amamentação e, no longo prazo, sua capacidade de formar relações seguras.

A tristeza da mãe e o impacto no vínculo

É importante entender que a tristeza faz parte do pós-parto em muitos casos. O chamado baby blues, que atinge até 80% das mulheres nas primeiras semanas, se caracteriza por um humor mais sensível, choro frequente e melancolia. Ele tende a se resolver naturalmente, mas ainda assim merece acolhimento e, se intenso, atenção profissional.

Contudo, quando a tristeza é profunda, persistente, acompanhada de sensação de incapacidade, culpa intensa, apatia, medo exacerbado ou dificuldades em se conectar com o bebê, isso pode indicar um quadro mais sério — como depressão pós-parto — que requer intervenção psicológica especializada.

Nesses casos, a mãe até cuida do bebê no plano físico, mas emocionalmente pode se sentir distante, esgotada e incapaz de estar realmente presente. Esse afastamento emocional é percebido pelo bebê, que pode responder com insegurança, maior irritabilidade ou dificuldades de regulação.

Os sinais de alerta para a saúde mental materna

Nem sempre é fácil perceber que algo não vai bem, especialmente quando se acredita que o sofrimento “faz parte” da maternidade. Mas é fundamental que a mulher observe seus sentimentos e legitime seu sofrimento.

Alguns sinais que merecem atenção e podem indicar a necessidade de ajuda profissional:

  • Vontade de chorar constante e sem motivo aparente

  • Tristeza profunda, melancolia

  • Estado ansioso ou depressivo prolongado

  • Sensação de alerta constante, dificuldade para descansar

  • Medo exagerado de doenças, acidentes, sair de casa

  • Sentimento de impotência, desvalia como mãe

  • Apatia, falta de energia, desânimo para as tarefas básicas

  • Culpa excessiva, preocupação constante

  • Irritabilidade frequente

  • Dificuldade em tomar decisões ou em impor limites

Quanto mais frequentes e intensos esses sintomas, maior a necessidade de buscar apoio.

Como cuidar da saúde mental materna?

Cuidar da saúde mental materna começa na gestação. O pré-natal psicológico é um excelente recurso para preparar a mulher para as mudanças que virão e ajudá-la a lidar com suas próprias questões emocionais e histórias de vida, que inevitavelmente emergem na maternidade.

A psicoterapia no puerpério é igualmente importante. O nascimento do bebê traz transformações intensas e rápidas, e contar com um espaço de escuta especializada ajuda a mulher a atravessar essa fase com mais consciência, confiança e presença.

Além disso, o apoio do parceiro, da família e de amigos próximos é fundamental. Essas pessoas podem ajudar a perceber mudanças emocionais importantes e encorajar a mulher a buscar ajuda quando necessário.

O puerpério emocional: um processo profundo

Ainda se fala pouco sobre o puerpério emocional, mas ele existe e pode durar até dois anos. Esse período é um convite para a mulher revisitar sua própria história, suas relações de apego e construir uma nova identidade que inclua a maternidade sem apagar quem ela é. É um processo de reintegração, em que ela precisa se tornar inteira novamente para conseguir estar plenamente presente para si mesma e para o filho.

Concluindo

O bem-estar da mãe e do bebê caminham juntos. Quando a mulher é cuidada, quando suas emoções são legitimadas e quando ela tem apoio para atravessar as dificuldades emocionais da maternidade, ela consegue oferecer ao filho a segurança afetiva que ele precisa para crescer saudável, confiante e amado.

Por isso, se você percebe que algo não vai bem, não hesite em buscar ajuda. Você merece ser cuidada — por você e pelo seu bebê.


Se esse texto tocou você, compartilhe com outras mães que também precisam ouvir isso. E se quiser falar sobre o que está sentindo, estou aqui para te ouvir.

#SaúdeMentalMaterna #Puerpério #Maternidade #PsicoterapiaDoPuerpério. 

 

Tornar-se mãe: o luto invisível e a reintegração de si

6 setembro, 2025

Tornar-se mãe é também deixar de ser quem se era.

É inevitável.
E, às vezes, doloroso.

Você não perde tudo.
Mas nada permanece exatamente como antes.

É uma transição que não tem rito.
Não tem despedida formal.
Não tem festa.
Não tem aviso prévio.

Mas tem luto.

Um luto silencioso por hábitos antigos,
por uma liberdade que agora exige planejamento,
pelos espaços da casa e da alma que eram só seus.

Tem luto pela mulher que você foi —
mesmo que você tenha desejado muito ser mãe.

E junto com esse luto, vem o medo de não se reencontrar.
De não conseguir voltar a se ver, de se reconhecer nos seus próprios olhos.

Mas não é um fim.
É o início de uma reintegração.

Um processo de renascimento lento,
em que a mulher-mãe vai aos poucos se costurando de volta.
Juntando os pedaços antigos com os que estão nascendo agora.

E quando essa integração começa a acontecer,
você não volta a ser a mesma.
Você se torna mais inteira.


O sofrimento que vem da não aceitação

Apesar de ser uma travessia comum, esse processo muitas vezes é vivido em silêncio — ou com culpa. Quando a mulher não se permite aceitar que mudou, que está mudando, que não conseguirá mais "voltar ao normal", o impacto emocional pode ser profundo.

A recusa da nova identidade materna, mesmo que inconsciente, pode desencadear:

  • Baixa autoestima: uma sensação constante de inadequação, insuficiência, como se nunca fosse “o bastante”.

  • Ansiedade e estresse: esforço contínuo para manter um padrão anterior de vida que já não se encaixa na nova realidade.

  • Luto prolongado: saudade da liberdade, da leveza, de si mesma.

  • Conflito interno: entre o desejo de voltar a ser quem era e a necessidade de estar inteira para cuidar.

  • Isolamento: sentir-se diferente das outras mães, como se ninguém mais estivesse passando pelo mesmo.

  • Impacto nos vínculos: dificuldade de pedir ajuda, de se fazer entender, de manter conexões afetivas saudáveis.

  • Depressão pós-parto: em casos mais graves, o desencontro interno pode se agravar e comprometer seriamente o bem-estar emocional da mulher.


Psicoterapia como espaço de costura emocional

A psicoterapia pode ser um espaço fundamental para essa reintegração da identidade.
Um lugar onde não há julgamentos, apenas escuta.
Onde a dor do luto é acolhida, a culpa é ressignificada, e a nova mulher que está surgindo pode finalmente ser vista.

Porque a maternidade não exige perfeição.
Ela pede presença — consigo mesma, antes de tudo.

🌿 Se você está nesse lugar de transição, ainda se sentindo entre quem era e quem precisa ser, saiba que esse processo pode ser cuidado. E você não precisa vivê-lo sozinha.

 

Entre amor e culpa: as ambivalências emocionais da maternidade

29 agosto, 2025

Nem sempre a maternidade é o que a gente imaginou.
Aliás, na maior parte do tempo… ela é tudo, menos o que a gente idealizou.

Porque junto com o amor mais profundo que já sentimos, também vêm sentimentos que a gente não sabe bem onde guardar.
Vem a exaustão. A irritação. A vontade de fugir.
O silêncio que pesa. A saudade de si mesma.

Sim, você pode amar seu filho e, ainda assim, desejar uma hora só para você.
Pode se sentir inteira num momento e, no instante seguinte, completamente esvaziada.
Pode agradecer por ser mãe e, ao mesmo tempo, sentir raiva do que a maternidade tirou de você.

E nada disso diminui o amor.


A verdade é que ninguém conta pra gente sobre a ambivalência.
Essa mistura confusa de emoções que parecem se contradizer, mas que coexistem dentro de nós, o tempo todo.

Você já deve ter se pegado pensando:
“Como posso amar tanto e, ao mesmo tempo, me sentir tão sufocada?”
“Será que tem algo errado comigo?”
“Por que ninguém fala sobre isso?”

A resposta é simples e dura ao mesmo tempo: porque fomos ensinadas a silenciar.
A sermos gratas. A sorrir mesmo cansadas. A dar conta de tudo — sem nunca nos perder.

Mas a realidade é que muitas de nós estamos cansadas de fingir.


E é nesse ponto que mora a culpa.
A culpa por não estar sempre disponível.
Por não se sentir realizada o tempo todo.
Por não amar a maternidade em todos os seus detalhes.

Mas e se eu te disser que sentir tudo isso é absolutamente humano?
Que sentir amor e raiva, carinho e cansaço, doação e vontade de sumir… é parte do processo?
E que acolher essas emoções não te torna uma mãe pior — pelo contrário, te torna mais consciente, mais honesta, mais inteira?

A maternidade é um território de paradoxos.
E atravessá-la exige coragem — não para ser perfeita, mas para ser real.


Se você se viu em algum pedaço desse texto, respira fundo.
Você não está sozinha.
Você não está errada por sentir o que sente.
Você só está tentando se reconhecer no meio de tudo isso.

E esse reconhecimento é possível.
Existe um lugar onde você pode ser escutada com verdade, sem julgamentos, onde cada ambivalência pode ser acolhida como parte legítima da sua história.

Se você sente que está pronta para começar esse processo de reencontro consigo mesma, eu estou aqui.
Te recebo com escuta, acolhimento e presença.
Juntas, podemos iniciar o caminho para que você volte a se sentir inteira.

No seu tempo, do seu jeito.


Um abraço, 

Katherine Sorroche 

 

Estar com você mesma de verdade, pode ser o que você mais precisa agora

23 agosto, 2025

Nessa semana contei lá no meu Instagram que saí para almoçar com uma amiga que não via desde Fevereiro. Nossas agendas são complicadas de conciliar. Na realidade, a agenda de todo adulto é, afinal são as obrigações da vida que também nos movimentam, além de nossos interesses pessoais de onde queremos chegar. E é isso também que nos norteia em relação ao que é prioridade agora. 

Mas, até que ponto sua agenda tem estado tão cheia a ponto de ser difícil conciliá-la com você mesma? 

A agenda vai se ocupando das reuniões de trabalho, dos aniversários, da rotina das crianças (ou do seu bebê) e, quando você se dá conta - se é que você se dá conta - sua agenda está tomada pelas prioridades e demandas alheias. Todo mundo tem um espaço ali, menos você. 

Aos poucos você foi deixando para depois o pilates, yoga, rotina matinal de meditação, ou a atividade física; aquela aula de dança que você queria tanto fazer; aquele curso que você tinha planejado começar nesse ano. 

Os encontros vão ficando para depois e a vida digital nos engana de que estamos realmente próximos e conectados com quem amamos. 

Sua saúde então... está em último lugar. Você come a comida fria que sobra no prato, quando come. Deixa seus médicos e seus exames sempre depois, mas o pediatra está em dia, assim como as vacinas, as roupas, os brinquedos... 

E assim, você vai ficando para depois, com a comida que sobra no prato, com o tempo que sobra no dia... seus sonhos vão ficando engavetados para "um dia eu começo isso". 

Mas... se não há tempo para o que o que é importante para você, o que você está fazendo da sua VIDA? 

Se a vida está corrida demais para ouvir sua música favorita, encontrar as amigas, estar com a família, ler um livro, curtir a casa sem obrigações, o que você está realmente VIVENDO?

O que tenho aprendido, com a clínica, com pesquisa e com a vida, é que a ausência de tempo para si não é só uma consequência do excesso de demandas. Muitas vezes ela revela uma dificuldade mais profunda: a de se colocar no centro da própria vida.

Não há vida que se sustente em uma agenda na qual você não se faz caber. Você deve ser a primeira pessoa com quem conciliar as suas necessidades, seus sonhos, projetos e vontades. Mas para isso é preciso ter CLAREZA. E a clareza vem também do tempo que você oferece a você mesma. Chamo esses tempos de tempos de abastecimento. 

Se abastecer é bem diferente de descansar. Descansar é passivo e pode ser até anestesiante - como ficar horas em frente a TV assistindo uma série que não agrega em nada. Descansar é tirar o peso das costas, se estirar no sofá e deixar a vida passar, sem vê-la passar. 

Abastecer é diferente. Abastecer é ter consciência do que te faz bem e fazer o que te faz bem. É saber o que de fato carrega os seus motores, enche seu tanque. Um fim de semana na praia, uma manhã de sábado sozinha, um banho prolongado, uma boa música ou simplesmente fazer nada. O silêncio, a solitute, uma caminhada no parque. 


Saber o que recarrega suas energias é saber o que nutre sua alma e é também ter em mão um remédio natural e poderoso:como você mesma pode combater o seu cansaço, a sua exaustão, a sua desconexão com você mesma. É a sua própria medicina. É criar e acessar seus recursos internos sempre que necessário, quando sente que a vida está pedindo um pouco mais além do que você tem para dar ou do que já aprendeu (e sim, a vida sempre irá nos desafiar). 


E é claro que tudo isso traz benefícios para saúde mental, como a redução do stress, bem-estar emocional, além de estimular a criatividade , o que consequentemente impacta as suas relações diárias, já que uma mulher que não está preenchida de si mesma, está vazia. E vazia não tem para dar. Não quer passear, não quer brincar, não quer se divertir, não quer viajar. E então se fecha, cada vez mais. 

Eu sei que é difícil e desafiador dar o primeiro passo. Muitas não querem olhar para si , tem medo de olhar para sua história, por medo de sofrer de novo. Outras já sentem que estão sendo egoístas ao dedicarem ao menos uma hora por semana para si mesma e não se dedicarem 100% aos filhos. E com isso vem a culpa. 

Já outras se veem tão desconectadas de si que nem sabem por onde começar. 

Além disso, olhar para si, exige coragem. Coragem de encarar o que vai brotar quando o barulho externo é silenciado, abrindo espaço para o que suas vozes internas tem para te dizer. E assim que podemos enfim reorganizar e respirar profundamente com segurança. Assim que fica leve. 


É o dia que você está vivendo hoje que vai escrever a história que você vai ler lá na frente... quando já tiver netos, ou até bisnetos. Como você tem vivido seus dias? Tem realmente vivido, ou tem só passado por eles, não vendo a hora desse dia terminar, da semana acabar, do mês passar... 


Se você sente que algo precisa mudar, e quer dar o primeiro passo, conte comigo. Vou te dar as mãos e vamos fazer essa travessia juntas. Lado a lado. Eu só posso te conduzir porque eu já estive aí. E vou te contar: é muito melhor aqui. 

Por isso desenhei e criei o Pausa Para Mim, um projeto de autocuidado possível , que cabe na sua vida (uma hora por semana, por doze semanas), para te ajudar a ter clareza, encerrar esse ano com mais leveza e viver mais centrada e alinhada com o que você quer para a sua vida. 

Quer companhia na sua trajetória? Conte comigo.

Um abraço, 

Katherine Sorroche 

Psicóloga da Mulher-Mãe

@katherinesorroche



 

Por que tirar tempo para você não é egoísmo (e sim sobrevivência)

13 agosto, 2025

Quando você se tornou mãe, provavelmente sentiu que sua vida passou a girar em torno das necessidades do bebê. No início, isso é natural — afinal, ele depende de você para tudo. Mas com o tempo, muitas mulheres seguem nesse movimento de doação sem pausa, esquecendo completamente de si mesmas.

Entre fraldas, noites em claro, escola, trabalho, casa, casamento, contas, tantas demandas e culpas, sobra pouco ou nenhum espaço para olhar para dentro. E quando surge essa necessidade — de descanso, silêncio, respiro, prazer — muitas vezes ela vem acompanhada de uma pontada de culpa.

Essa culpa nasce de uma ideia equivocada, mas ainda muito comum: a de que cuidar de si mesma é egoísmo.

Hoje eu quero te dizer: não é egoísmo. É sobrevivência.

O mito da mãe que dá conta de tudo

Por muito tempo, a maternidade foi romantizada como um estado de abnegação infinita, como se fosse possível (e desejável) apagar completamente as próprias necessidades para viver apenas para os filhos.

Na prática, esse ideal não só é irreal, como é perigoso. Mães que se anulam acabam exaustas, ressentidas, emocionalmente desconectadas e, muitas vezes, doentes.

Quando você não respeita os seus limites, o corpo e a mente cobram a conta: crises de ansiedade, insônia, irritabilidade, tristeza profunda, dores físicas, dificuldade em se conectar com os filhos e até depressão.

O impacto no bebê (e em toda a família)

Você já reparou como os filhos percebem quando a mãe está irritada, triste ou distante?

Eles sentem — mesmo quando você tenta disfarçar. Cuidar de si mesma não é apenas um gesto de amor-próprio: é também um gesto de amor pelos seus filhos, pelo parceiro, pela família.

Quando a mãe está emocionalmente mais equilibrada, ela consegue oferecer presença, paciência, conexão. Um filho não precisa de uma mãe perfeita — precisa de uma mãe possível, humana, que também se cuida.

O que são os ‘tempos de abastecimento’

Eu gosto de chamar os momentos que a mulher tira para si de tempos de abastecimento, que são completamente diferentes de tempos de descanso. Tempo de abastecimento são tempos de fazer nada consigo mesma, fazendo coisas que vão além do descanso físico, mas que abastecem a alma. Isso pode ir desde ler um livro, ouvir músicas, dançar, cozinhar, até fazer uma trilha no fim de semana, correr, surfar, por exemplo. 


Promover a si mesma tempos de abastecimento é como recarregar a sua própria bateria interna, contribuindo para a redução do stress da vida cotidiana. Momentos assim também abrem espaço para reflexões sobre a vida em geral, permitindo promover as mudanças e ajustes necessários para diminuir a exaustão emocional.


Eles não são um luxo nem um capricho. São como parar no posto para abastecer o carro antes de continuar a viagem.

Esses tempos podem ser silenciosos ou ativos; longos ou breves. O que importa é que sejam intencionais: um tempo em que você sai do modo automático e se lembra de quem você é, do que você gosta, do que te recarrega.

Alguns exemplos de tempos de abastecimento:

  • Um banho sem pressa, com a porta fechada.

  • Uma caminhada sozinha no parque, ouvindo música.

  • Um café quente, em silêncio, pela manhã.

  • Uma sessão de terapia, para se ouvir e ser ouvida.

  • Um jantar com amigas.

  • Deitar no sofá sem fazer nada, só para respirar.

Como começar sem culpa

👉 Primeiro, reconheça que você tem necessidades legítimas e que cuidar de si não te torna menos mãe — te torna uma mãe mais inteira.
👉 Depois, converse com quem divide a casa com você e organize pequenos espaços na rotina para esses momentos.
👉 Comece pequeno. Não espere ter um dia inteiro livre. Às vezes, 10 ou 15 minutos já são suficientes para sentir que você existe além das demandas.

Concluindo

Cuidar de si mesma é um ato de coragem em um mundo que insiste em cobrar mulheres incansáveis.
Cuidar de si mesma é um ato de amor por você e pelos seus filhos.
Cuidar de si mesma não é egoísmo — é sobrevivência.

Permita-se ser cuidada também. Você merece existir para além dos papéis que desempenha.


E você? Já conseguiu tirar um tempo só para você essa semana? Conta aqui nos comentários o que você faz para se abastecer — ou o que gostaria de começar a fazer.

#autocuidado #maternidadepossível #temposdeabastecimento #maternidadeerealidade

 

Frustração millennial + maternidade: quando a crise de propósito encontra a sobrecarga

4 agosto, 2025

"Eu fiz tudo certo e ainda assim me sinto perdida."

Essa foi a frase de uma paciente que poderia ter sido dita por milhares de mulheres dessa geração. Aos 40 anos, depois de uma vida dedicada aos estudos, à carreira e às escolhas “certas”, ela se viu mergulhada em uma crise de propósito, exausta e sem conseguir reconhecer a mulher que era antes.

Essa é a frustração millennial, a nova crise de meia-idade dessa geração — marcada por um mercado de trabalho instável, custo de vida alto, hiperconexão e a sensação de nunca ser suficiente. E para muitas mulheres, a maternidade chegou junto — ou logo antes — dessa crise, tornando tudo ainda mais intenso.

Chegar aos 40 anos era, para muitos de nós, sinônimo de ter “chegado lá”. Uma carreira estável, independência financeira, casa própria, férias planejadas, um certo equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A geração millennial — nascida entre 1984 e 1995 — acreditou nessa promessa. E, em grande parte, fez tudo certo para alcançá-la: estudou, se dedicou, trabalhou duro e obedeceu às regras do jogo.

Mas a realidade se impôs: um mercado de trabalho instável, custo de vida cada vez mais alto, crises econômicas, a hiperconexão e a cultura da performance trouxeram um peso inesperado. E agora, às vésperas (ou já dentro) dos 40, muitas pessoas — especialmente mulheres — sentem que não chegaram lá. Pelo contrário: sentem que estão longe de onde gostariam.

A nova crise de meia-idade dos millennials é uma combinação de frustração e perda de engajamento marcada por pressões únicas:

  • cuidar dos filhos;
  • ajudar pais envelhecendo;
  • se reinventar profissionalmente;
  • lidar com a exaustão mental de estar sempre “em falta”.

E para muitas mulheres, a maternidade chegou junto — ou logo antes — dessa crise, potencializando os desafios.


Quando a maternidade agrava a crise

Ter filhos em uma fase mais tardia da vida, como ocorre com boa parte das mulheres millennials, acrescenta novas camadas de complexidade e pressão:

  • O luto pela identidade anterior: sentir que já não se reconhece mais fora do papel de mãe.
  • A sobrecarga de papéis: mãe, profissional, filha, parceira — todos ao mesmo tempo.
  • A busca pela perfeição materna, que alimenta a culpa e a sensação de insuficiência.
  • O impacto na carreira, que pode ser interrompida, desacelerada ou tornar-se mais insegura justamente quando a estabilidade parece mais necessária.
  • O cansaço físico e emocional, agravado por noites mal dormidas, demandas constantes e falta de tempo para si.

O impacto na saúde mental

Tudo isso tem consequências concretas para a saúde mental dessa geração de mães:

  • Ansiedade crônica;
  • Burnout materno e profissional;
  • Depressão;
  • Sensação de estagnação e vazio;
  • Dificuldade para descansar sem culpa.

Essa sensação de “ter feito tudo certo e ainda assim não ter chegado lá” mina a autoestima e o senso de propósito. E como um ciclo, a saúde mental abalada fragiliza também a relação com os filhos.

Como isso afeta a relação com os filhos?

Os primeiros anos de vida — a primeira infância — são a base para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social de uma criança. Mães exaustas e sobrecarregadas têm mais dificuldade de estar emocionalmente disponíveis, de brincar com leveza, de responder com paciência e sensibilidade às necessidades dos filhos.

Isso não significa que essas mães não amem profundamente ou que sejam “inadequadas”. Significa que elas estão pagando um preço alto por carregar tudo sozinhas — e que cuidar de si não é só um direito, mas também uma necessidade para sustentar a relação com seus filhos.

Um convite ao cuidado

Não é você que falhou. É um mundo que exige demais, entrega pouco apoio e vende uma ilusão de que podemos dar conta de tudo sem nos despedaçar no caminho.

Reconhecer a dor, dar nome ao que se sente e buscar ajuda — seja através de terapia, de uma rede de apoio, de limites mais claros ou de escolhas mais realistas — é o primeiro passo para reencontrar a si mesma.

Cuidar da sua saúde mental é também um gesto de amor pelos seus filhos. Porque uma mãe que se sente mais inteira pode oferecer um colo mais seguro.

Se você se reconheceu nesse texto: respire. Você não está sozinha.

É possível construir um caminho mais leve, possível e verdadeiro para você — e para a relação com seus filhos e família. Você pode começar agora e pode contar comigo para te conduzir nesse processo.

Eu adoraria saber o que essa reflexão desperta em você. Compartilha aqui comigo nos comentários ou por mensagem.

Katherine Sorroche, mãe da Alice e do Gabriel

Psicóloga | Especialista em saúde mental materna, puerpério e identidade feminina

Ajudo mulheres a se reencontrarem como mulheres, mães e profissionais — sem se anularem no processo.

 

O poder do afeto materno na infância: um investimento para a vida inteira

15 julho, 2025

É comum dizermos que o amor de mãe é incondicional, mas a ciência tem mostrado que ele é também estrutural. O carinho, o acolhimento e a presença afetiva nos primeiros anos de vida não são apenas gestos de amor — são verdadeiros pilares para o desenvolvimento emocional e até físico dos filhos.

Um estudo publicado no JAMA Psychiatry revelou que crianças que receberam maior afeto materno aos 3 anos de idade desenvolveram, aos 14, percepções mais positivas de segurança social. E essa percepção teve desdobramentos poderosos: aos 17 anos, essas mesmas crianças apresentaram melhor saúde física, menor sofrimento psicológico e uma menor prevalência de quadros como depressão, ansiedade, automutilação e ideação suicida.

O que isso significa, na prática?

Significa que o amor materno — especialmente quando traduzido em presença afetiva constante, escuta sensível e vínculo seguro — não apenas conforta, mas constrói estruturas internas de proteção emocional. Quando uma criança se sente segura no mundo, ela desenvolve mais recursos para lidar com frustrações, construir relações saudáveis e enfrentar os desafios da vida com resiliência.

A base segura começa cedo

A teoria do apego já nos mostrava isso: quando o bebê experimenta cuidados consistentes e responsivos, forma-se uma base segura a partir da qual ele pode explorar o mundo. Esse vínculo inicial, muitas vezes invisível aos olhos, tem efeitos duradouros no cérebro e no sistema nervoso da criança.

O afeto materno precoce impacta diretamente o desenvolvimento do sistema de regulação emocional, das respostas ao estresse e até da forma como o corpo responde a inflamações e doenças na adolescência e vida adulta. Ou seja, amar, acolher e estar presente são formas profundas de cuidar da saúde integral dos filhos.

O amor que cuida também precisa ser cuidado

Mas aqui entra um ponto importante: para oferecer esse amor de forma consistente, a mãe também precisa estar cuidada. Precisamos falar, com responsabilidade e empatia, sobre o cansaço, a exaustão materna e a sobrecarga emocional que tantas mulheres enfrentam, especialmente nos primeiros anos de maternidade.

O cuidado com a saúde mental materna não é apenas um direito da mulher — é também um investimento na saúde emocional da próxima geração.

Em resumo:

  • O afeto materno é um fator protetivo potente na infância e adolescência;

  • Construir vínculo seguro nos primeiros anos impacta saúde física e mental a longo prazo;

  • A presença emocional da mãe oferece estrutura, regulação e segurança;

  • Cuidar da mãe é também cuidar da criança.

🌸 Cuide de quem cuida

Se você sente que está no limite, sobrecarregada ou emocionalmente distante de si mesma, saiba que você também merece cuidado, acolhimento e um espaço para se reencontrar.

A psicoterapia e programas como o Pausa Para Mim podem te ajudar a se fortalecer emocionalmente para oferecer o melhor de si sem se perder no caminho.

📩 Entre em contato para saber mais e dar o primeiro passo no seu próprio cuidado — por você e por quem você ama.

 

Baby blues, depressão pós-parto e puerpério emocional: diferenças que toda mãe precisa conhecer

15 julho, 2025

Logo após o nascimento do bebê, muitas mulheres se surpreendem com a intensidade dos sentimentos que surgem. Entre a alegria de ter o filho nos braços, aparecem também lágrimas, medo, confusão, tristeza, irritação e uma sensação de não dar conta.

Essa mistura de emoções pode ser assustadora, especialmente para quem acreditava que a maternidade seria apenas felicidade e plenitude. Mas sentir-se assim no início não significa necessariamente que algo está “errado”. O que importa é compreender o que faz parte de um processo natural de adaptação e o que indica a necessidade de ajuda profissional.

Por isso, hoje vamos esclarecer as diferenças entre três experiências comuns no pós-parto — baby blues, depressão pós-parto e puerpério emocional — para que você saiba o que esperar e quando buscar apoio.

O que é baby blues?

Também conhecido como blues puerperal, o baby blues é uma reação emocional muito comum, que acomete cerca de 50% a 80% das mulheres nos primeiros dias após o parto.

Ele geralmente aparece entre o 3º e o 5º dia pós-parto, quando os hormônios oscilam intensamente e a realidade da maternidade começa a se impor.

Sintomas típicos:

  • Choro fácil e sem motivo claro

  • Sensação de tristeza ou melancolia

  • Irritabilidade

  • Ansiedade leve

  • Dificuldade para dormir (além da natural com o bebê)

  • Sensação de estar sobrecarregada

Esses sintomas costumam ser passageiros e atingem o pico por volta do 5º dia, desaparecendo sozinhos em até 2 semanas. Durante esse período, acolhimento, descanso e apoio da rede próxima costumam ser suficientes.

O que é depressão pós-parto?

Diferente do baby blues, a depressão pós-parto é uma condição mais grave e duradoura, que pode começar nas primeiras semanas após o nascimento, mas também surgir meses depois.

Ela não desaparece sozinha e requer acompanhamento psicológico (e, em alguns casos, psiquiátrico).

Sintomas típicos:

  • Tristeza profunda, persistente e sem melhora com o tempo

  • Choro frequente e sensação de desamparo

  • Perda de interesse ou prazer nas atividades

  • Irritabilidade ou apatia intensa

  • Sensação de não ser capaz de cuidar do bebê

  • Dificuldade de se conectar emocionalmente com o bebê

  • Pensamentos negativos recorrentes, inclusive de autolesão ou de que o bebê estaria “melhor sem ela”

A depressão pós-parto não é “falta de amor pelo filho” ou “fraqueza” — é uma doença que precisa ser tratada, porque pode impactar tanto a saúde da mulher quanto o desenvolvimento do bebê.

E o que é o puerpério emocional?

O puerpério emocional não é uma doença nem um diagnóstico, mas sim o nome que damos ao processo psicológico que acompanha a adaptação à maternidade.

Ele começa no nascimento do bebê e pode durar meses ou até dois anos, porque envolve muito mais do que a recuperação física do corpo — é também sobre a reorganização da identidade da mulher.

Características do puerpério emocional:

  • Revisitar a própria história e relações familiares

  • Sentir ambivalência (amor e raiva, alegria e medo, desejo de estar com o bebê e vontade de fugir)

  • Perder temporariamente a sensação de “ser quem era antes”

  • Experimentar a fusão emocional com o bebê e, depois, a lenta separação emocional conforme ele cresce

  • Reorganizar as relações afetivas e sociais

Essa travessia é natural, ainda que desafiadora, e faz parte do tornar-se mãe. Porém, em algumas mulheres, pode ser mais dolorosa ou confusa — especialmente se há uma história emocional marcada por traumas ou relações frágeis.


Aspecto Baby Blues Depressão Pós-parto Puerpério Emocional
Quando começa? 3º-5º dia pós-parto 2 semanas a meses após Desde o nascimento
Duração? Até 2 semanas Sem tratamento, pode durar meses ou anos Até 2 anos (varia)
Intensidade? Leve e transitória Intensa e incapacitante Moderada, mas persistente
Necessita tratamento? Geralmente não Sim, sempre Não é doença, mas pode se beneficiar de apoio psicológico
Impacto na relação com o bebê? Pouco ou nenhum Grande Variável


Quando buscar ajuda?

Mesmo que você não saiba exatamente “em qual caixinha” se encaixa, se o sofrimento for intenso, frequente e começar a comprometer sua capacidade de cuidar de si e do bebê, busque apoio profissional.

Os sinais de alerta incluem:

  • Tristeza profunda que não melhora

  • Medo exagerado ou paralisante

  • Falta de vínculo com o bebê

  • Culpas excessivas e incapacitantes

  • Pensamentos negativos sobre si mesma ou sobre o bebê

Concluindo

Os sentimentos no pós-parto são intensos, confusos e muitas vezes contraditórios. É fundamental saber que não há nada de errado em precisar de ajuda — pelo contrário, buscar apoio é um gesto de cuidado com você e com o bebê.

O baby blues pode passar sozinho, mas a depressão pós-parto precisa ser tratada, e o puerpério emocional merece ser acompanhado com sensibilidade para que você possa atravessá-lo com mais leveza e consciência.

Você não está sozinha. E não precisa atravessar esse caminho sem apoio.


Se esse artigo te ajudou a compreender melhor o que você está sentindo ou já sentiu, compartilhe com outras mulheres que também precisam saber disso.

E se quiser conversar, estou por aqui para te ouvir. A Consultoria de Puerpério e também a Psicoterapia (semanal ou quinzenal) são excelentes para trazer clareza e mudança acerca do que você está vivenciando.

#babyblues #depressaoposparto #puerperioemocional #maternidadeerealidade #saúdementalmaterna


 

A saúde mental materna e seu impacto no desenvolvimento dos filhos

14 julho, 2025

Quando um bebê nasce, tudo é novo para ele — menos a mãe. Essa figura ele já conhece desde o ventre, inclusive as emoções dela. Desde a gestação, o bebê é exposto ao estado emocional da mãe, e essa conexão não se rompe com o parto. Na verdade, é a emoção da mãe que guia o bebê no início da vida, ajudando-o a perceber se está em um ambiente seguro ou não.

Essa segurança afetiva, transmitida muitas vezes sem palavras, é essencial para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo da criança. Por isso, cuidar da saúde mental da mulher não é apenas um cuidado com ela mesma — é também um investimento profundo no bem-estar do bebê.

Como o estado emocional da mãe influencia o bebê?

O bebê percebe o mundo por meio de sensações. Ele não entende conceitos, mas sente, por exemplo, se a mãe está calma, ansiosa, triste, irritada ou serena. É através do que a mãe transmite que ele aprende a confiar, a relaxar, a perceber que o ambiente em que vive é seguro.

Quando a mãe está bem emocionalmente, tende a se mostrar mais disponível e sensível às necessidades do bebê. Essa responsividade — estar atenta e atender adequadamente às demandas — fortalece o vínculo entre eles, ajuda o bebê a regular suas próprias emoções e sustenta seu desenvolvimento saudável.

Por outro lado, se a mãe atravessa dificuldades emocionais importantes, como depressão pós-parto, ansiedade intensa ou estresse crônico, isso pode dificultar essa conexão inicial. O bebê pode se sentir mais inseguro, menos compreendido e ter maior dificuldade para regular o sono, a amamentação e, no longo prazo, sua capacidade de formar relações seguras.

A tristeza da mãe e o impacto no vínculo

É importante entender que a tristeza faz parte do pós-parto em muitos casos. O chamado baby blues, que atinge até 80% das mulheres nas primeiras semanas, se caracteriza por um humor mais sensível, choro frequente e melancolia. Ele tende a se resolver naturalmente, mas ainda assim merece acolhimento e, se intenso, atenção profissional.

Contudo, quando a tristeza é profunda, persistente, acompanhada de sensação de incapacidade, culpa intensa, apatia, medo exacerbado ou dificuldades em se conectar com o bebê, isso pode indicar um quadro mais sério — como depressão pós-parto — que requer intervenção psicológica especializada.

Nesses casos, a mãe até cuida do bebê no plano físico, mas emocionalmente pode se sentir distante, esgotada e incapaz de estar realmente presente. Esse afastamento emocional é percebido pelo bebê, que pode responder com insegurança, maior irritabilidade ou dificuldades de regulação.

Os sinais de alerta para a saúde mental materna

Nem sempre é fácil perceber que algo não vai bem, especialmente quando se acredita que o sofrimento “faz parte” da maternidade. Mas é fundamental que a mulher observe seus sentimentos e legitime seu sofrimento.

Alguns sinais que merecem atenção e podem indicar a necessidade de ajuda profissional:

  • Vontade de chorar constante e sem motivo aparente

  • Tristeza profunda, melancolia

  • Estado ansioso ou depressivo prolongado

  • Sensação de alerta constante, dificuldade para descansar

  • Medo exagerado de doenças, acidentes, sair de casa

  • Sentimento de impotência, desvalia como mãe

  • Apatia, falta de energia, desânimo para as tarefas básicas

  • Culpa excessiva, preocupação constante

  • Irritabilidade frequente

  • Dificuldade em tomar decisões ou em impor limites

Quanto mais frequentes e intensos esses sintomas, maior a necessidade de buscar apoio.

Como cuidar da saúde mental materna?

Cuidar da saúde mental materna começa na gestação. O pré-natal psicológico é um excelente recurso para preparar a mulher para as mudanças que virão e ajudá-la a lidar com suas próprias questões emocionais e histórias de vida, que inevitavelmente emergem na maternidade.

A psicoterapia no puerpério é igualmente importante. O nascimento do bebê traz transformações intensas e rápidas, e contar com um espaço de escuta especializada ajuda a mulher a atravessar essa fase com mais consciência, confiança e presença.

Além disso, o apoio do parceiro, da família e de amigos próximos é fundamental. Essas pessoas podem ajudar a perceber mudanças emocionais importantes e encorajar a mulher a buscar ajuda quando necessário.

O puerpério emocional: um processo profundo

Ainda se fala pouco sobre o puerpério emocional, mas ele existe e pode durar até dois anos. Esse período é um convite para a mulher revisitar sua própria história, suas relações de apego e construir uma nova identidade que inclua a maternidade sem apagar quem ela é. É um processo de reintegração, em que ela precisa se tornar inteira novamente para conseguir estar plenamente presente para si mesma e para o filho.

Concluindo

O bem-estar da mãe e do bebê caminham juntos. Quando a mulher é cuidada, quando suas emoções são legitimadas e quando ela tem apoio para atravessar as dificuldades emocionais da maternidade, ela consegue oferecer ao filho a segurança afetiva que ele precisa para crescer saudável, confiante e amado.

Por isso, se você percebe que algo não vai bem, não hesite em buscar ajuda. Você merece ser cuidada — por você e pelo seu bebê.


Se esse texto tocou você, compartilhe com outras mães que também precisam ouvir isso. E se quiser falar sobre o que está sentindo, estou aqui para te ouvir.

#SaúdeMentalMaterna #Puerpério #Maternidade #PsicoterapiaDoPuerpério. 

 

O que é o puerpério emocional e por que ele pode durar até dois anos?

13 julho, 2025

Quando falamos em puerpério, a maioria das pessoas pensa naquele período de resguardo físico — as seis semanas em que o corpo da mulher se recupera do parto, o útero volta ao tamanho normal, os pontos cicatrizam. Esse, de fato, é o puerpério fisiológico.

Mas existe um outro puerpério, menos visível e ainda pouco falado: o puerpério emocional.

Este é o processo psicológico e emocional que a mulher atravessa para se tornar mãe, integrando a experiência da maternidade à sua identidade. E ao contrário do que muitos pensam, ele não termina em 40 dias.

Na verdade, pode levar até dois anos — ou mais — para que a mulher se sinta inteira novamente e consiga reorganizar suas emoções, sua rotina, suas relações e sua percepção de si mesma.

O que acontece no puerpério emocional?

O puerpério emocional começa no nascimento do bebê, mas não se limita à separação física entre mãe e filho. Após o parto, mãe e bebê continuam profundamente conectados emocionalmente — o bebê ainda se percebe como extensão do corpo materno, e a mãe, muitas vezes, também só encontra bem-estar estando com o bebê perto de si.

Esse período é marcado por:
🔹 Uma fusão emocional intensa entre mãe e bebê;
🔹 Sentimentos ambivalentes: amor e cansaço, alegria e medo, realização e perda;
🔹 Revisão da própria história afetiva, muitas vezes trazendo à tona memórias e dores da infância;
🔹 Uma busca por reencontrar a si mesma enquanto mulher, além do papel materno.

Tudo isso ocorre enquanto a mulher lida com demandas físicas, privação de sono, mudanças hormonais e a enorme responsabilidade de cuidar de um ser totalmente dependente.

Por que pode durar até dois anos?

O puerpério emocional não tem uma “data de validade” fixa, porque não é só sobre o corpo — é sobre a psique.

Aos poucos, conforme o bebê ganha autonomia, a mãe também vai reconstruindo a própria autonomia emocional. Esse processo de separação emocional é lento e depende de muitos fatores: a história emocional da mulher, a rede de apoio que ela tem, suas condições de vida, sua saúde mental antes e durante a maternidade.

Para algumas mulheres, isso acontece com mais facilidade; para outras, é um caminho mais longo. Por isso, estima-se que levar cerca de dois anos para se sentir inteira novamente é algo comum e natural.

Como saber se é só o puerpério ou algo mais sério?

É importante diferenciar o puerpério emocional — que é uma adaptação natural — de quadros que exigem cuidado profissional imediato, como depressão pós-parto ou transtornos de ansiedade.

Se a tristeza, a culpa, a irritabilidade ou o medo se tornam tão intensos e frequentes a ponto de paralisar a mulher ou impedi-la de cuidar de si e do bebê, é fundamental buscar ajuda especializada.

Alguns sinais de alerta:

  • Choro constante e sem motivo aparente;

  • Sensação de incapacidade como mãe;

  • Medo exagerado de sair ou de que algo ruim aconteça;

  • Sentimento de estar “desconectada” do bebê;

  • Apatia, desânimo, falta de energia para atividades básicas.

Como atravessar o puerpério emocional com mais leveza?

🕊️ Psicoterapia: ter um espaço seguro para falar dos sentimentos, compreender as transformações e elaborar sua própria história faz toda a diferença.
🕊️ Rede de apoio: não carregar tudo sozinha e permitir-se receber ajuda de parceiros, familiares e amigos.
🕊️ Pausa pra você: mesmo em pequenas doses, buscar momentos para descansar, respirar, fazer algo que traga prazer são essenciais para promover seu bem-estar.
🕊️ Pré-natal psicológico: para quem ainda está grávida, iniciar o cuidado emocional antes do parto ajuda a preparar o terreno para essa travessia.

Concluindo

O puerpério emocional é tão legítimo quanto o físico — e, muitas vezes, ainda mais desafiador. Ele não é sinal de fraqueza, mas de um processo natural e profundo de transformação.

Cuidar da saúde mental materna não é luxo, é necessidade. E quanto mais cedo a mulher puder contar com apoio, mais leve, segura e significativa será essa jornada.

Se você está vivendo esse momento, saiba: você não está sozinha. É possível atravessar o puerpério emocional com acolhimento e reconstruir-se inteira, no seu tempo e do seu jeito.


Se esse artigo fez sentido para você, compartilhe com outras mulheres que também precisam saber que não há nada de errado em sentir-se perdida nesse início. E se quiser falar sobre o que você está vivendo, estou por aqui para te ouvir.

#puerperioemocional #maternidade #saúdementalmaterna #psicoterapiadopuerperio 

 

O impacto do estado emocional e psicológico da mãe na amamentação

15 agosto, 2024

Quando falamos de amamentação (e também de desmame) sob a perspectiva da Psicologia entramos numa área muito delicada para muitas mulheres. 


Atualmente há muito preparo em torno da amamentação. A amamentação pode ser considerada um fenômeno natural e instintivo na mulher que acabou de parir seu bebê, mas a vida moderna, acelerada, cheia de afazeres, vem tirando cada vez mais a mulher desse lugar de conexão com seus instintos. 


A maioria das mulheres, ao chegar nesse momento pós parto com seu bebê no colo, já leu livros, falou com médicos, fez consultoria de amamentação, ouviu experiências de outras mulheres, acompanhou relatos nas redes sociais, já criou diversos cenários possíveis em sua mente do que pode dar certo ou errado na amamentação e, assim, ela se sente preparada. Ela cuidou de tudo em relação à chegada desse novo bebê, no entanto ela não se preparou emocionalmente tanto para a amamentação quanto para o puerpério psicológico, que é o período que pode durar até dois anos após o nascimento do bebê e que representa a fase de maior fragilidade emocional da mãe. Esse preparo é o que propicia atingir camadas mais profundas da mulher, como fortalecer o seu protagonismo na sua maternidade, possibilitá-la desenvolver clareza dos seus desejos pessoais de querer ou não amamentar, colocá-la em contato com sua própria história de amamentação e desmame com sua mãe quando ela era um bebe porque tudo isso conta, e conta muito, para a fluidez da amamentação. 


Amamentar é o primeiro grande desafio da maternidade com o qual a mãe se depara e envolve um estado psíquico e emocional de entrega. Entrega essa que pode ser difícil a depender de razões conscientes ou inconscientes. É após o nascimento, através do contato pele a pele com a mãe, e posteriormente através da amamentação, que a conexão mãe-bebê começa a acontecer. É nessa fase que a ligação mãe-bebê precisa se consolidar, já que o bebê depende disso também para sobreviver. 


Quando se alimenta da mãe, o bebê está se nutrindo não só fisicamente, mas principalmente, emocionalmente. O colo da mãe, o cheiro, os batimentos cardíacos, tudo isso traz para o bebê a segurança que ele precisa para lidar com a nova vida aqui fora após o trauma do nascimento (sim, todo nascimento é um trauma para o bebê).


Para que essa entrega aconteça, primeiramente , a mulher precisa estar confortável com isso, o que significa estar disponível física e emocionalmente para esse momento, desligando-se de todas as outras demandas externas e decisões que tem que ser tomadas.


A maternidade chega para a mulher moderna em meio a um dia-a-dia agitado com agenda lotada, em meio a uma trajetória de carreira em ascensão ou em meio ao medo de perder o emprego, em meio a um contexto de filhos mais velhos que também demandam atenção, dentre tantos outros possíveis contextos, o que tira o foco e a presença da mulher com esse novo bebê e pode vir a dificultar o estabelecimento da amamentação e toda a vivência do puerpério emocional. O primeiro grande conflito da maternidade muitas vezes surge nesse momento: como dar conta? 


A maternidade traz consigo uma pausa na vida de antes e a necessidade de entrega, o que é muito desafiador para a grande maioria das mulheres já que há uma dificuldade em se ver e vivenciar esse lugar mais calmo, sem tantas tarefas a serem cumpridas por ela. E nesse contexto a amamentação pode ser muito mais desafiadora, assim como todo o puerpério, porque esse lugar calmo, que ela nunca ocupou, traz inquietude e, muitas vezes, um estado ansioso ou o sentimento de solidão.


É necessário compreender que o ato de amamentar vai muito além do físico, ou seja, vai além de oferecer o seio e esperar que o bebê se movimente em resposta ao reflexo de sucção.






A mãe precisa estar confortável, precisa que seu parceiro (se ele está por perto) cuide de todo o entorno dessa mãe, desde oferecer a água e demais confortos para que mãe e bebê possam se conhecer e construir essa relação, até pensar em todas as outras demandas corriqueiras da casa, dos filhos mais velhos, da rede de apoio e cuidar para que essa mae não seja de fato incomodada com nada , por exemplo, que não receba visitas se não quiser, porque o ambientes também influencia no desenvolvimento da amamentação, principalmente em um período tão delicado, em que a mulher encontra-se regredida psiquicamente, revivendo e revisitando inconscientemente suas próprias histórias de quando era um bebê. 



Se a mulher está biologicamente, naturalmente, pronta para amamentar e se, está tudo bem com o bebê (pega correta, freio lingual, etc) e ainda assim o processo está difícil, então é bem provável que hajam significados emocionais individuais a serem observados, compreendidos e cuidados. Calma, confiança e entrega favorecem um bom aleitamento, já o medo, depressão, ansiedade tendem a trazer dificuldades e demandar "sacrifícios". 


Por outro lado há diversos casos em que não há um motivo aparente que esteja atrapalhando a descida do leite, a pega, ou a entrega da mãe. É aí então que a Psicologia do Puerpério atua, ajudando a mãe a compreender o seu momento pela perspectiva emocional. Além de razões inconscientes, há também razões bem visíveis no dia a dia como um parceiro que está com dificuldades em ver a sua mulher como mãe, ou que constantemente critica a maternidade de sua parceira. 


A amamentação é um recurso potente até para casos de depressão pós parto, mas não quando esse momento gera mais tensão, ansiedade, tristeza e sobrecarga emocional para a mãe além da dor física que muitas sentem ao amamentar. 



É importante salientar que, mesmo essa mãe tenha tido uma primeira história de amamentação bem sucedida, pode vir a ter histórias e desafios diferentes com os filhos posteriores. 


Portanto, para que a amamentação flua, devem ser considerados não somente os aspectos físicos da mãe e do bebê, a historia de gestação e parto que vivenciaram juntos, bem como o entorno da mulher (ambiente e rede de apoio), e principalmente a disponibilidade interna e emocional da mãe e os aspectos conscientes e inconscientes para amamentar ou não, principalmente quando temos casos de muita dor na amamentação, mastites, fissuras. 

Juntamos a isso a particularidade de cada mãe, compreendendo o nível se segurança, autocobrança, rigidez e perfeccionismo diante da maternidade. 


Lembre-se, você está aprendendo a ser mãe, a ler o bebê. Tenha calma e paciência consigo mesma.

Ainda que a amamentação não flua para vocês conforme você desejava, ainda assim há a construção do amor e do vínculo através de outros momentos. Não se cobre tanto e busque apoio profissional sempre !


Katherine Sorroche, Psicóloga da Mulher-Mãe 

Especialista em Puerpério, Saúde Mental da Mulher, Parentalidade e Primeira Infância. 






 

Chegamos ao meio do ano! Dicas para chegar ao final com emocionalmente saudável!

1 julho, 2024

Metade de um ano já se foi. O que você tem feito por você? Como tem lidado com as demandas do dia a dia, com o cansaço e com uma possível exaustão?


O tema da exaustão facilmente surge quando falamos das demandas e responsabilidades da maternidade. O termo inclusive já se popularizou e 10 entre 10 mães relatam cansaço, stress e exaustão como algo que faz parte da maternidade, quando, na realidade, não deveria ser assim.


As demandas diárias da maternidade são sim cansativas, o que é muito diferente de estar em um estado de exaustão e não conseguir vivenciar os momentos bons com seus filhos, enxergar apenas o lado ruim de tudo a todo momento e sentir que a maternidade é um peso. A exaustão coloca a mulher em um estado de alerta constante e impede o relaxamento na simplicidade do dia a dia. 


Sendo assim, é importante saber o que é esperado e o nível de estresse aceitável na sua maternidade e o que já é crônico e precisa de cuidado e intervenção adequada. 


Uma forma simples de começar a diferenciar o cansaço da exaustão é perceber como você acorda e como é o seu sono. Em geral, quando estamos cansadas, basta dormir, relaxar, desconectar do trabalho e das demandas diárias que isso já nos recarrega. No caso da exaustão é diferente. Percebemos corpo e mente sobrecarregados, de modo que os momentos de descanso não resolvem. Na exaustão há insônia, ou um sono perturbado e não relaxante. Há dificuldade em se entregar para o relaxamento, você sente um cansaço extremo no final do dia, e muitas vezes já quando acorda. 


Mesmo cansada é possível tomar pequenas decisões, conseguir estabelecer uma rotina minimamente organizada e estruturada, há flexibilidade diante de imprevistos como o filho doente que não pode ir para a escola e com isso você tem que cancelar seus compromissos. Na exaustão há extrema dificuldade para tomar decisões do dia a dia, dificuldade em lidar com as situações e ter consciência emocional, pensar com calma e com clareza. Diante disso, é mais comum haver explosões de raiva; decisões impulsivas (cansei! chega!); vontade de chorar sem motivo aparente. 


A exaustão na maternidade também pode ser caracterizada pela vontade em fazer as coisas, mas acabar por não fazer por não ter energia como retomar a atividade fisica, por exemplo ou fazer uma caminhada.


Tudo isso vai se sobrepondo e em algum momento chega a sensação de incapacidade e surgem recorrentemente falas e pensamentos como "não dou conta", "não sou uma boa mãe", quando na verdade essa mãe está exausta e precisa de ajuda para ajustar sua rotina, ajustar seu dia a dia, para que então possamos cuidar do seu emocional. 


No entanto, sabemos que a maternidade demanda muitos novos cuidados e responsabilidade, o que também prejudica um diagnóstico e manejo da exaustão precocemente, porque a mulher às vezes até percebe que tem algo diferente acontecendo com ela e que é ponto de atenção, mas ela ouve do entorno: é assim mesmo, vai passar. E então, mais uma vez, duvida de si mesma e não dá ouvidos a sua própria sensação. E assim vai vivendo, construindo relações muitas vezes desgastantes com os filhos, parceiro e familiares, e, mais grave ainda, podendo vir a desenvolver um quadro de Burnout ou Depressão. 


O que fazer então diante desse cenário? 

Idealmente é preciso mudar o dia a dia. Rotina, ritmo, estilo de vida. No entanto, se você está em exaustão, muito provavelmente já não tem forças para sozinha começar a promover qualquer mudança (lembra que um dos sintomas é ter vontade de fazer, mas não ter energia pra fazer?! pois então…)


Nesse ponto é que o apoio psicológico em um processo terapêutico vai te auxiliar com o diagnóstico e com ajustes necessários no dia a dia para a promoção de bem-estar. 


Mas aqui vão alguns passos fundamentais: 


  1. Faça uma análise profunda de como você vem vivendo atualmente. 


Há tempo para você ou a maior parte dele é gasta em compromissos e demandas em função de prioridades alheias? Chefe, marido, filhos, família? Quanto tempo na sua agenda semanal é destinado a você mesma, incluindo terapia, atividade física, sonhos e projetos?


Você cuida de todos menos de você? 


Tente incluir 10 minutos por dia na sua agenda com você mesma. Um café, um café, a leitura de algumas páginas de um livro. Ao longo das semanas vá aumentando esse tempo. 

Ou então tente incluir uma atividade por você na sua semana: pode ser uma hora de terapia, massagem, caminhada, yoga, pilates. Vale qualquer coisa que seja por você e que promova reconexão com você mesma (não vale ficar uma hora no celular ou assistindo série). 


  1. Perceba a si mesma: 


Você acorda cansada todos os dias mesmo depois de ter dormido? Tem insônia? 

Tem falta de apetite ou come demais? Em que momentos isso acontece? O que aconteceu no dia de diferente? 

Você anda reclamando demais? De tudo e de todos? Se você anda enxergando mais o copo meio vazio do que meio cheio, está na hora de buscar ajuda".

Você se sente motivada na vida? O que hoje traz sentido, significado e realização? 

Você tem clareza da vida que você quer viver daqui um ano? Três anos? Cinco anos? Há alinhamento entre a vida que você vive hoje e a vida que gostaria de viver? 



  1. Rituais significativos: 


Acredito muito no poder dos pequenos rituais para trazer um novo ritmo para o nosso dia a dia. Um ritmo mais desacelerado, mais presente e conectado. 


Muitas pessoas gostam de acordar enquanto a casa ainda está em silêncio, preparar seu café, fazer alguma prática relacionada à sua fé, ou meditar, ou fazer exercícios de respiração ou movimentos de Yoga. 


Nesse item não há certo ou errado. O intuito é entender o que você precisa e nutrir a alma. 


Acorde, alongue-se, respire fundo. Olhe pela janela, observe o céu, o sol. 

Se conseguir medite, ou se conecte com a sua fé e espiritualidade. 


De maneira nenhuma pegue o celular: É preciso se fortalecer primeiro, antes de entrar em contato com as demandas externas e, muitas vezes, ser sugada por elas. 


  1. Atividade física: 

A que for possível de fazer e encaixar na sua rotina. 


Comece devagar para desenvolver o hábito. Trinta minutos por dia é razoável ou duas a tres vezes por semana já está ótimo. 


Não imponha a si mesma metas muito arrojadas. Agora não é hora de pensar no resultado, mas sim de aliviar a carga física e mental da exaustão. 


  1. Qualidade de sono: 

Sono não se refere apenas à quantidade de horas dormidas, mas à qualidade dele. A receita principal é: alimente-se até duas a três horas antes de dormir, preferencialmente com comida mais leve e de fácil digestão. Desconecte-se de todas as telas pelo menos duas horas antes de dormir. Não tome bebida alcoólica. Conforme anoitecer, propicie um ambiente acolhedor e de relaxamento na sua casa, com luzes mais baixas e menos ruído. Aproveite para se acolher também. Coloque um pijama confortável, meias, tome um chá. 


  1. Alimentação & Suplementação: 


Com a vida corrida, dificilmente ingerimos todas as vitaminas e minerais que precisamos, o que prejudica, inclusive, a regulação do corpo e a produção dos hormônios necessários ao relaxamento. 

Além disso, a mulher que é mãe já está naturalmente com um corpo estressado e exausto fisiologicamente por conta da gestação (e das tentativas de engravidar), do parto e do puerpério. Portanto, sim, a mulher-mãe está mais estressada, cansada e exausta simplesmente porque seu corpo está se readaptando. 


Precisamos fornecer combustível para o corpo poder funcionar. Uma alimentação altamente proteica juntamente com a suplementação adequada já são capazes de melhorar e muito os sintomas físicos , e também emocionais, da exautão, já que um corpo com energia gera mais disposição, ânimo e consequentemente mais motivaçào. 


  1. Chega de carregar o mundo nas costas!!


É  fundamental aprender a pedir ajuda e a delegar. 

A mulher de hoje cresceu achando que é bom ser a mulher maravilha e dar conta de tudo. Para quê? Para quem? Temos que assumir que não somos tão auto suficientes quanto imaginamos ou gostaríamos e que para viver a vida que gostaríamos de viver, precisaremos de ajuda, sim!

A busca pela perfeição, alto desempenho na maternidade e em outros papéis, a busca pela independência e autossuficiência tem levado as mulheres à exaustão e ao adoecimento.


De agora até o final do ano, quais pesos mentais e físicos você pode diminuir na sua vida? 

Se sentir que precisa de ajuda nesse novo caminho, conte comigo!


Katherine Sorroche

Psicóloga especialista em Puerpério, Saúde Mental da Mulher e Parentalidade


 

O puerpério vai muito além de apenas 45 dias

25 junho, 2024

Entenda o que é o puerpério emocional e a diferença com o período de resguardo. 


Se você é mãe ou está gestante muito provavelmente já tenha ouvido essa palavra: PUERPÉRIO. 

E se você conversar com outras mães muito provavelmente elas dirão que é o período mais intenso da vida delas, que você nunca mais vai dormir de novo, que você não tem mais vida, que bebês choram demais e que a hora da bruxa é a pior hora do dia, entre outras coisas que só te fazem concluir que esse é pior período da vida com filhos. 


Mas calma, não é bem assim. 


Os primeiros dias com um bebe são realmente intensos. É tudo novo para ambos - mãe e bebê - em um período em que o corpo da mulher também está tendo que se adaptar muito rapidamente aos desafios da amamentação. Os hormônios estão a todo vapor, em função de fazer esse corpo entender que o bebê já nasceu e precisa do cuidado da mãe. Esse é o puerpério fisiológico, ou mais informalmente conhecido como período de resguardo, que dura em torno de 45 dias e é caracterizado pelos desafios de um corpo que está fisiologicamente estressado, com déficit de nutrientes após uma gestação e um parto, se adaptando à nova vida. 


Mas não é só fisiologicamente que há necessidade de um resguardo. 

Emocionalmente, a mulher ainda está se encontrando nessa nova dinâmica familiar. Os desafios da amamentação, a privação de sono, o choro do bebê, a nova rotina que se estabelece, a falta de ajuda, ou o excesso de palpites, tudo isso traz uma demanda psicológica de adaptação. 


Esse é o puerpério emocional, ou seja, o período de adaptação emocional e psicológica à maternidade, que pode durar até dois anos de idade da criança, podendo se estender até dois ou três anos após o parto, caso essa mulher não tenha suporte profissional adequado para compreender e elaborar todas essas mudanças e , de fato, se adaptar à maternidade. 


Tornar-se mãe é um processo que mobiliza emoções muito profundas, principalmente a depender do contexto social, financeiro, conjugal e estrutural que essa mulher está inserida. Tudo muda: a dinâmica da casa, a relação do casal, muitas vezes a renda, a vida social, as amizades, sua visão de mundo, seus valores e prioridades, entre outros. 


É nesse período também que podem surgir a Depressão Perinatal, Transtornos de Ansiedade, Transtornos de Humor, ou outros transtornos conforme as dificuldades enfrentadas por essa nova mãe. 



Sinais de puerpério emocional:


No início, até seis meses após o parto, mãe e bebê estão se vinculando e se conhecendo. Então é natural que surjam muitas preocupações relacionadas ao bebê, angústia em ficar sozinha com o bebê ou muito tempo longe dele. Nessa fase também pode haver uma necessidade maior de recolhimento e retraimento social. 

Chorar sem motivo, tristeza súbita, introversão, maior irritabilidade e cansaço também são sintomas esperados nos primeiros 30 dias. Se ultrapassarem este período e forem muito intensos e frequentes, busque ajuda. 


A partir dos seis meses a vida já começa a ficar um pouco mais estável em relação aos cuidados com o bebê. É quando então a mulher começa a se voltar mais para si mesma. em geral ela começa a buscar mais espaços internos para seu autocuidado físico e emocional - volta a trabalhar, muda o estilo de se vestir, retoma a vida social, retoma a vida conjugal, busca tempo para si. Nesse período também surgem conflitos internos a respeito de sua identidade, sua missão e propósito de vida, questionamentos sobre o futuro, como: que mãe eu quero ser no futuro? que família eu quero ter? que mundo eu quero ajudar a construir para os meus filhos? o que eu quero para minha vida e para a vida dele? quem sou eu agora? 


O movimento contrário a esse também pode surgir, e é bastante comum, o que leva à angústia, ansiedade, ao peso da maternidade, ao medo, à dificuldade em se reconhecer e retomar a própria vida. Esse é um sinal claro que essa mulher precisa de ajuda para se ver além da mãe que ela está se tornando. 


A adaptação à maternidade vai muito além de um corpo que precisa voltar ao lugar. A todo momento, desde a concepção, descoberta da gestação, gravidez, parto, amamentação, pós parto, estão sendo mobilizadas questões da história de vida dessa mãe, sua infância, seus traumas, a relação com os próprios pais. Tudo isso passa a ser refletido após o nascimento dos filhos e permeia a relação que esta sendo construída com eles. 


Por ser um período de maior vulnerabilidade emocional na vida da mulher, cada vez mais tem sido atribuída a devida importância à saúde mental materna. 


Ter assistência psicológica durante a gestação, parto e puerpério é efetivo tanto para o diagnóstico, manejo e tratamento de transtornos perinatais como por exemplo a depressão gestacional, depressão pós parto, transtorno de ansiedade, como também é um grande aliado na prevenção destes e outros transtornos. E, ainda que não haja a presença de um transtorno efetivamente, adquirir conhecimento e desenvolver seu autoconhecimento, certamente te ajudarão no seu processo interno e emocional de adaptação à maternidade.


A Psicoterapia e a Sessão de Acolhimento são meios de autocuidado físico e emocional que você merece na sua maternidade. Não se deixe para amanhã.



Katherine Sorroche 

Psicologa 

CRP 06/76400


 

Enxoval Emocional e Saúde Mental Materna durante a gestação, parto e puerpério

13 maio, 2024

Gestação, parto e puerpério: tão importante quanto cuidar do bebê no pré-natal é cuidar também da saúde mental da mãe.


Sabemos que o nascimento de um filho traz mudanças na rotina e na vida da mulher como um todo, mas e internamente? O que de fato muda? Que mudanças são essas? Qual o real impacto da gravidez, parto e puerpério na vida da mulher?

 

 

Assim que se descobre grávida a mulher já começa a passar pelas transformações que chegam com a maternidade, não somente as mudanças físicas, mas principalmente as mudanças emocionais. Conforme a gestação se desenvolve chegam também os medos, preocupações, ansiedade. Por ser tudo muito novo e por ser certo que a vida da mulher vai mudar, é um período muito propenso ao surgimento ou agravamento de quadros de ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, transtorno obsessivo compulsivo, entre outros.

 

O período perinatal, que compreende desde a gestação até o puerpério, é o período de maior vulnerabilidade emocional na vida da mulher e que nem sempre representa felicidade, satisfação ou realização. No entanto, essa ainda é uma expectativa da sociedade, o que contribui para que não se de a devida importância à saúde mental materna e aos sentimentos e emoções que fazem parte desse momento.

 

Diante disso, é cada vez maior a preocupação e ações voltadas à promoção de saúde mental materna. A fim de ampliar o cuidado com a saúde integral da mulher, foi sancionada a Lei nº 14.721/2023, que prevê a ampliação da assistência psicológica às mulheres no período que vai desde a gravidez, passando pelo parto, até o puerpério fisiológico, ou seja, entre 40 e 60 dias após parto.

A lei obriga hospitais e estabelecimentos de saúde de gestantes, públicos ou privados, a desenvolverem atividades de conscientização sobre a saúde mental das mulheres grávidas e puérperas. A lei, publicada em 09 de novembro de 2023, passa a valer em 180 dias.

 

Tornar-se mãe é um período que traz também uma intensa fragilidade emocional, que se agravam diante de dificuldades enfrentadas por essas mulheres, em especial para mulheres expostas a violência doméstica, complicações na gestação e parto, gravidez na adolescência e dificuldades socioeconômicas. Sendo assim, ter assegurado o direito à assistência psicológica é promover visibilidade à tais dificuldades como também oferecer apoio profissional e psicoeducação sobre as mudanças que chegam com a gestação e puerpério, diagnosticando e conduzindo o cuidado necessário para promoção do bem-estar mental e integral da mulher.

 

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os sintomas de depressão impactam 26,3% das mulheres brasileiras no período de 6 a 18 meses após o parto. Ainda de acordo com o estudo conduzido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), destacam-se entre os fatores associados à depressão ter história prévia da síndrome, gravidez não planejada, baixa condição socioeconômica, uso abusivo de bebida alcoólica e tabagismo, entre outros.

 

Para se beneficiar da assistência psicológica promovida pelo SUS, gestantes, parturientes e puérperas deverão passar por avaliação com profissional de saúde durante o pré natal para que então possam ser encaminhadas ao psicólogo perinatal.

 

Ter assistência psicológica durante a gestação, parto e puerpério é efetivo tanto para o diagnóstico, manejo e tratamento de transtornos perinatais como por exemplo a depressão gestacional, depressão pós parto, transtorno de ansiedade, como também é um grande aliado na prevenção destes e outros transtornos. E, ainda que não haja a presença de um transtorno efetivamente, receber educação e informação acerca do Puerpério fisiológico e Puerpério Emocional, da mudança de vida após a chegada do bebê e ter informação a respeito das necessidades fisiológicas, psicológicas e afetivas do bebê certamente contribuem e muito para que essa mulher atravesse o puerpério de forma mais segura e confiante.


A assistência psicológica também é um grande aliado quando há gestação de risco, contribuindo para a compreensão maior da dinâmica que se estabelece, bem como para alívio da sobrecarga emocional.

 

 

Katherine Sorroche é Psicóloga Especialista em Perinatalidade, Puerpério Psicológico e Saúde Mental da Mulher